quarta-feira, 28 de março de 2012

Novo evangelho de Millôr

Uma homenagem
A cada sol que surge, novos e mais novos sinais aparecem de mudanças dos tempos clima & sucessão de horas. Enquanto o frio desagradável que nos assolou (tem sol ai no meio!) vai se dissipando e o ar brilhante da primavera vai penetrando a atmosfera, os ratos de esgoto se tornam mais visíveis, alcateias de pulhas saem dos ralos e, sobretudo na calada da noite, ouve-se os guichos e uivos das milícias solertis sentindo seus tugúrios ameaçados pelo calor que aumenta. De vez em quando, insustentáveis, caem do alto alguns gambás não conseguindo mais se sustentar nos galhos e cipós autárquicos. Ao mesmo tempo, alguns raros talentos-malversadus são vistos bêbados e cegos pela luz que ameaça despontar. Na saida do túnel vendem-se ainda (forma reflexiva, eles se vendem) muitos sibaritas tediosos da ultima temporada.Mas há também muita vida antiga preservada no ultimo andar, sobretudo no sótão; gerentes hemiplégicos recebem para derradeira tentativas os vetustos safados. Mas uma janela bate, se abre, e deixa entrar uma lufada (êpa! Nada de Maluf!)) de ar fresco, inoculando pneumonia e bronquite nesses remanescentes amigos do peito. Não é necessário ter narinas muito apuradas pra perceber que vai ser tarefa de Hercules livrar toda a área do fedor terrível deixado pelos superexecutivos vigas, forros, degraus, revestimentos, quase tudo está podre nesta nossa Dinamarca.
Millôr Fernandes (falecido hoje, dia 28 de março de 2012)

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